A diferença de tratamento entre dois casos recentes de brasileiros mortos no exterior tem gerado revolta e questionamentos em todo o país, especialmente em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. É de lá que vem a família de Gabriel Tavares Bitencourt, jovem que faleceu no Chile no dia 16 de junho após sofrer uma convulsão e uma parada cardiorrespiratória. Até hoje, o corpo permanece no Instituto Médico Legal de Puerto Natales, aguardando o pagamento de taxas para liberação.
A irmã de Gabriel, Graziella Tavares, tem buscado apoio de parlamentares, veículos de imprensa e autoridades federais para conseguir viabilizar o traslado, mas recebeu como resposta que o governo brasileiro não possui autorização orçamentária para esse tipo de despesa. O Brasil, desde 2016, não reserva verba pública para traslado de corpos do exterior, diferentemente de países como a Áustria, que mantêm esse apoio como política de Estado.
A indignação da família de Luziânia aumentou após a repercussão nacional da morte da estudante Juliana Marins, que faleceu em uma trilha na Indonésia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou nota de pesar em suas redes sociais, entrou em contato com os familiares da jovem e determinou ao Itamaraty que acompanhasse de perto o traslado do corpo ao Brasil.
“É impossível não sentir que há uma diferença de tratamento. A dor da perda é a mesma, e nós também somos brasileiros”, escreveu Graziella em uma carta aberta enviada ao Ministério das Relações Exteriores. Ela questiona os critérios adotados pelo governo federal para decidir quando e como prestar apoio nesse tipo de situação: “Existe algum protocolo específico que leve em conta a repercussão midiática? Existe morte mais importante do que outra?”, desabafa.
No documento, Graziella também cita o artigo 5º da Constituição Federal de 1988, que garante igualdade de direitos a todos os brasileiros. Para ela, a ausência de um critério claro e transparente é uma forma de descaso e reforça a desigualdade no acesso aos serviços públicos, mesmo em momentos de extrema dor.
O caso de Gabriel Bitencourt tem mobilizado moradores de Luziânia e da região do Entorno. Líderes locais já se articulam para pressionar o Congresso Nacional a discutir a retomada de uma política pública para apoio financeiro a famílias brasileiras que enfrentam esse tipo de situação no exterior.
Enquanto isso, a família segue lutando para trazer Gabriel de volta para casa, uma luta marcada pela dor, pela indignação e pela ausência do Estado.